Obra | Os Excelsos

Os Excelsos 

Por Pedro de Timon 


Locus amoenus

Guerreiros,
Intrépidos guerreiros,
Singravam pelo índigo oceano,
Azul como o cúprico sal.
Deslizando pelo mar,
Demonstraram sua titânica pujança,
Poderio polinésio ancestral
Que foi de encontro à suprema paz,
Excelsas terras de Nippur.

Sob o luar e amena aragem,
Num tronco entalhado,
A conquista do paraíso jazia.
Penoso regresso,
Feérica recepção,
Declamava-se flamejantes relatos
E o povo, ébrio, quis transladar à diva paz.

A efébica virgem de líquidas madeixas,
Cerúleas como líquida turmalina paraíba,
Mostrou sua inclemência e fez das jangadas suas cativas,
Obliterou a ambição de atingir aquele empíreo,
Tal como a campina florida emurchece.
Numa sáfara, caíram as esperanças
E o tempo, implacável,
Tornou lenda tudo o que viveram até então.

Pedro de Timon

Num equilíbrio dinâmico,
Deslizou pelo globo,
Cravando suas flechas gnósicas,
Para num elã do destino
Estatelar-se num arquipélago remoto.

Das veredas da terra brasilis
A um diminuto e refulgente paraíso tropical,
De fronte esmeraldina,
E aqui o acaso fez resplandecer
A mais provecta das esfingéticas lendas.

Num vislumbrar divino,
Desabrochou crócea a frangipani,
Revelação fulgente
De um latíbulo quente.
No cingir da aragem cálida
O vigor entranha-se,
Tino veemente como o jaguar,
Bramindo ao vento
A certeza de um nirvana.

Derradeiro destino,
Como um dixe nobiliário resplandecente,
A uma paz cristal,
Monoclínica, etérea
Eterna e divinal.

Lililuane Sanbark, a Primeira

I

Estático equilíbrio,
Timon encontrava-se inerte como hélio.
Cingido pelo jângal verdoso,
De esperança perenal,
Lançou soberbo chamamento.
Anunciação esplêndida,
Como afável cantilena,
Correu os hemisférios do mundo
E alvejou aqueles que creem numa terra amena.
Errantes filhos do mundo,
Agora em sua residência última,
Cravam rijas raízes na terra da selva orvalhada.

Num tórrido dia,
Transpareceu-se o obducto poder,
O ressonante brado do povo,
Que numa penetração visceral da mata,
Proclamou soberana a imaculada virgem
Das flâmeas madeixas serpenteantes.
A magnificente vênus,
De alvura afim às helênicas estátuas,
Destinada a reluzir
Como o mais argêntico cântaro,
Glorificou-se solene ícone real.
Era ela,
A ninfa apolínea
Dos ondejantes cachos flavos,
Tão valedoura quanto a mais graúda pepita,
A consubstancialização da potência.

II

Apesar de trajar a coroa,
De diamantina ornamentação,
Fruto da impetuosidade hiperbárica da terra,
Parcamente imperava.
Donairosa como tal mineral,
Seu intento era transcendental,
Além da compreensão ordinária.
Destarte,
Mujubu Crospakys
Era quem tinha as rédeas da nação,
Primeiro-ministro,
Primeiro governante.

Efebo fruto da gálica aristocracia,
Desprendeu-se do galho
Para cair em probas terras silvícolas.
Nas cercanias do alcácer real,
Deambulava contumazmente
Sempre a escutar os rumores da relva,
Refastelava-se com seus ébrios fios
Sob agite da lufada.
Circunspecto prócer,
Despontou nessas ábditas terras
Tal como um álgido cometa,
Exilado fulgor no páramo,
Rebenta-se em sublimação frenética.

Eviterno guardião da liberdade,
Austero como erupção vulcânica,
Mas fascinante como a lava ardente
Que solidifica-se em estupenda obsidiana.
Consumador do progresso,
Devassou essas róscidas terras
Auferindo um contubérnio esplâncnico,
Fez-se intrínseco e perficiente liame,
Feito a graça de um intrincado líquen,
Progênito da harmônica simbiose.

III

Ulteriormente,
A ilustre incumbência
Recaiu sobre Vinícius Lancastre.
Sereno sentinela da plaga bochornal,
Com seu nímio zelo,
Susteve a supramundana placidez,
Que tal qual urânio em fissão,
Transmutou-se,
Não em explosão ingente,
Mas sim num marasmo inquietante.

Aniquilou-se a monotonia
Do cenário tão monocórdio
Quanto o instrumento,
Tal como os estrépitos sonidos do estouro
Dos fogos de artifício,
Que liquidam a bonança
Matizando o infindo manto celeste
Por efeito de inumeráveis saltos quânticos.
Vermelho feito a rubra cor
Da queima dos sais de estrôncio,
Era o sangue que pululava
Do lépido peito da monarca.

Esvaía-se,
Como o aroma das flores no ar,
E seu fronte mortiço
Não tinha mais a aura hipnotizadora dantes.
Expectava o momento
Em que sua vida seria ceifada
Pela fria gadanha da morte,
E mesmo nesse frígido estado cadavérico
De esfacelamento sanguíneo
A dor nunca a fez tão viva.

Circundada por um mar escarlate,
Repousava no soalho
Duma das tantas salas da corte.
Num perecimento célere,
Entrevia os afrescos do teto
Evocando suas memórias,
Seu rosto alabastrino,
Agora tão infausto
E com rufas máculas,
Encontrava-se imoto.

Lânguida,
Com os olhos fixos
E uma aspiração profunda
Findou sua fátua jornada,
Perdendo os sentidos,
Como embarcação que se perde no mar,
Condenada ao nada.
Exaurida e cadaverosa musa,
Restaram apenas seus fios
Flavescentes e coruscantes como o sol,
Numa coesão mortífera
Com sua carne ebórea
Rumo à putrefação,
Pois agora estava morta.

Venances Leafar, o Breve

O decesso cetrino da soberana
Foi como tsunami que varre a costa,
Apenas a súbita perplexidade perdura.
Num empenho em evadir-se do inevitável,
E com um golpe ainda mais insólito,
Timon, que vira o alvorecer dessas calorosas terras,
À custa do furor da espada
Concedeu o poder à Venances.

Benesse com lucilante fita,
Que cintilou como estrela em noite nebulosa,
Rapinado, pois não há metal que pode obtê-lo,
E ainda assim custosa é a dívida, corrosiva do brio.
Alucinado ato de um homem atemorizado,
Ato de quem viu o alvor de uma nação
E não aspira ver suas ruínas.

Nem o mais puro idílio por uma terra
Pode salvá-la da mofina dos falsos guardiões.
A vasta e generalizada desventura,
Precípite como avalanche eversivo,
Se perfez na abdicação do nupérrimo rei,
Que não se julgava digno de tal mister.
Reinar é um sacro ofício,
No entanto nicles obsta a titânica bravata,
Há cousas que não podem ser refreadas,
Meramente aceitadas.

Sifurafa Leafar, o Jardineiro

I

Nessas turbulentas águas de discórdia,
Em vasta dissonância com os ideais de Timon,
A ele não restou optação:
Só curvar-se ante o fluxo das ondas traiçoeiras,
Que carreia-o a uma distinta reforma estrutural.

No lesto galope de seu corcel,
O líder novedio intendeu sua hoste
E com a lâmina de seu sabre
Sepultou a oposição tenaz,
Podendo, assim,
Apoderar-se dos signos reais.
Esbandalhou o código
Feito gruim vascolejando lavagem,
Contudo, para ele nada disso importa
Quando se é o Estado.

II

Timon,
Nauta ad aeternum,
Ao mar reviu,
E nele resgatou sua eutimia.
Suas aflições cederam lugar
A uma euforia que anseia
O que a fortuna resguarda.
À vista disso, roteou seu navio
Rumo a cantos tão austrais
Que pode-se notar o frescor algente
Da brisa marinha.

Num lance fortuito,
Uma ignota ínsula transpareceu
Ao ser capturada pela luneta de Timon,
O embarcadiço estremeceu-se
E um frêmito subiu-lhe a espinha,
Era a mesma estupefacção de tempos atrás,
Que agora revivesceu o ensejo de placabilidade.
O local, vicinal às terras maoris,
Possuía uma dadivosa mansuetude
Atestada pelo clima brando que
Conjugava com a fagueira selva temperada.
Essas eram as recém-batizadas terras de Frillend:
Magnânima extensão e complemento
Da terra da cira canícula.

III

Posterior à retornança,
Timon comunicou o austero monarca
De que novos territórios transudaram-se.
E o rei, com presteza, subjugou
A terra do zéfiro cortante,
Que logo passou a ser fulcro de novas cizânias,
E também escopo duma pretérita figura.
Crospakys ressurgiu com possança,
Feito sólida rocha em afloramento
A abandonar as vísceras terreais,
E lançou seus tentáculos urticantes
Contra a régia coerção.

Num periódico,
Fez da palavra um punhal
De terebração assídua à tirania.
Bem como um satirize enfadonho,
Tal como aqueles que espetam
Os dedos imprudentes na cosedura,
Disso só restam pingos carmins no tecido
A lembrar da vossa incúria.
Seus textos foram a escora
Para reaquistar sua glória,
Que logo o medrou com o vil metal,
Daí o numulário férvido abstruso
Borbotou como água a ebulir.

Sua influente e novel corporação
Foi fulcral no defronte ao cêntrico poder,
Martirizado por essa recorrente cefaleia
Acentuada pelo sucumbir
Dos numerosos setores
Ao rótulo de mais uma posse corporativa.
Tornou-se ímprobo abater tal monopólio,
Varonil como predador edaz,
Mesmo se o monarca dirimisse
Óbices de tal natureza
Por meio de sua peculiar guisa floral.

O soberano não usufruía do prosônimo
De jardineiro apenas pelo fascínio
Para com as plantas,
Mas também por enterrar opositores,
Fazendo-os comer o relvado pela raiz.
De fato, nos munificentes e régios jardins
Despendia as horas e olvidava dos infortúnios,
Aquele solo vital era um tônico
Que hauria todos os males.

IV

Crospakys com sua
Sagacidade delfínica,
Teve o desplante
De premir Sua Majestade
E a fez curvar-se diante de si.

A rechaça ao magnata
Nessa arrevesada conjunção
Refletia na abstenção de precípuas
E módicas veniagas.
Ao soberano cabia condescender-se
E deglutir os alvedrios desse potentado,
Que espargia pelo solo os miolos da nação
Após acertar a carola dessa com sua ivirapema.

Numa excruciante escolha,
A qual anela o desvencilhamento,
Deferiu a ele a munífica chefatura
Da virgem terra frial,
Primeiro-ministro noutra terra,
Noutros tempos e agora dessa.
Por lá, Leafar já não maneava mais,
Mero adorno,
Feito aqueles que adereçam
As quadrelas de seu palácio
E passam desapercebidos amiúde.

V

Leafar se viu como
As esculturas que remanescem
Nas ruínas de vetustas civilizações,
A ver infindavelmente
Os sobejos de sua cultura.
O desatar do revés só encetou quando,
Em razão duma rede de espiões,
 Os olhos e ouvidos do rei
Encontraram-se naquela frígida terra,
Dispostos a conspirar
Contra o dirigente dessa.

Não obstante,
As veladas nódoas daquele
 Despotismo soalheiro
Foram ressaltadas por efeito
Da persistência
Dos estrategemas de Crospakys.
Era infactível absconder tal honra,
Tão conspurcada pela cobiça,
Mais ainda, homiziar as
Cinzas da liberdade debaixo
Duma das tantas nobres alcatifas
Adquiridas com tributos da plebe.

VI

Naquela terra da selva de matizes peridóticos,
O cheiro cinza da sujeição estúrdia
Deu lugar ao eflúvio do aparente
Ressuscitar da liberdade.

No raiar da diarquia,
Hubus, o majestático rebento,
Foi designado à frenagem
Do excisar ébrio da tesoura do Jardineiro.
Ilusório velir da arbitrariedade,
A obstinada pugna pelo romper
Das amarras da autocracia e seus fomentos
Ainda tinha muito o que perfazer.

A coercitiva desforra,
Cujos espinhos lancinam como
Os das rudes cactáceas,
Se fez na geração dum Conselho
Regido por Sua Alteza Hubus.
Foi uma faca de dois gumes,
Imposto como maciça bigorna
Atada aos pés da governança,
Não só do acalorado arquipélago,
Mas também da regelada ilha.

Quiçá,
A reestruturação das Constituições
Salve ambas as terras
De uma delongada e laboriosa caminhada
Rumo a um incontrolável colapso.
O conflito é imanente ao homem,
Motor da (in)civilidade,
Marcado por íncolas a desferir
Facadas pungentes em seus símeis.

Atroz sina humana,
E mesmo nos deíficos planos
Nunca houve, e nem haverá,
 A avença plenária.
É o fado do ser,
Hostilizar a si e o outro,
Jogo ardil de interesses.
E na amálgama da existência,
Apenas (sobre)vivemos.

VII

Nas transitoriedades do Estado,
O poder flui amorfo em seu curso,
À semelhança com a estreme água corrente,
Dela todos querem um pouco.
Beber, mergulhar e banhar-se
No flúmen de poderio,
Cuja vivífica efluência instigante
Nos envolve de modo alígero.

Nesse afluxo, a correnteza vigorosa
Jugula celeremente qualquer um,
E mesmo num fero afogamento
Sentimos sede de poder.

Intermitente rio,
Nas suas breves estabilidades
Pode-se percorrer extenso trajeto,
Alcançar cantos nunca antes contemplados
Em virtude dessa fluididade pujante.
Era o avanço inopino da mercancia,
D’água fervilhante provinha sua ossatura
Que solida a pátria ordem.

Nada obstante,
Talvez não haja magnanimidade,
Reles provento dos auspiciosos tempos,
Tudo é inconstância volúvel,
E o fazer política idem.
As ameaças agora eram outras,
Atrocidade nanométrica,
Produto da perversidade incógnita e terrorista,
E dessa virulenta opugnação,
Que inquina nossa carne
E nos amarga até o exício numa maca
Dum pífio hospital,
Subsistem sequelas societárias.

Nas úlceras penetrantes
Sentia-se a brutalidade do existir,
Lembrete da perpetração do morticínio
E do átimo fatal que nos aguarda,
É torturante quando o dedo de Tânatos
Roça nas ulcerações fazendo com que
Delas manem rúbidos riscos.
No vergastar desse calvário,
Que avoca o ocaso da vida,
O tétrico ente, de férrico coração
E entranhas de bronze,
Alvitra-nos duma áspera forma
Do que de fato vale:
A álacre vivência

VIII

A provação da vicissitude
Do exercer política
Se deu na eurritmia das árias
Até então discordes,
As quais estrondeavam
Pelas duas terras tão díspares
E de ora em diante
Comoram cordialmente,
Sem uma forcejar
O anulamento da outra.

O conchavo há de ser
Supino à zaragata pugnaz,
Apesar disso, como partículas em profusão,
Vivemos a colidir uns com os outros
Em chocantes encontros,
Cada um uma atroada mordaz
Que conota a irremissível decomposição
A qual não há escapatória,
No solo fervoroso
Ciclos se cerram,
A matéria e a energia transferem-se
E a consumição helmíntica
Sobre nós, alimento,
Concretiza a mais sibilina das deteriorações.

Somos um,
Conjunção fecundada
Pelos laços mais pretéritos,
Qualquer desagregação é
Mera dissimulação.
Ainda assim,
A admissão disso
Decorre da resulta oportuna
Ou de quando nada mais pode ser feito,
E na ocasião da renúncia do príncipe,
Líder daquele Conselho regulador,
Crospakys assumiu tal posto.

Logo irrompeu Solis,
União do que jamais foi desassociado,
Localidades tão antagônicas
Agora sob mesma governação,
Com todo o resplendor ofuscante
Vem a opulência, tanta luz!
Os feixes tremeluzentes
Aclararam o trâmite aos
Triunfos porvindoiros,
Ampla transfiguração
Do imane arcaboiço dum povo,
O qual convalesce aquele olhar lânguido
Por tanto sentir-se inditoso
Ao fitar as conflagrações transcorridas.

Facho da gnose avant-garde,
Sensível inovação apercebida
No deslizar dos nosso dedos pelo
 Ecrã tátil dum telemóvel.
Nalguma terna praça,
Ao mesmo tempo em que se vê
O voejar alucinador das borboletas
E o verdor, a evolar
O perfume da naturaleza,
É possível descortinar as chaminés fabris
E a fumaça de plúmbea nuança
Empestando os ares,
Custo do (des)avanço,
Mas dizem que a prosperidade
Há de chegar
E como tudo, nos avezamos também
Com tal emanação umbrosa,
Ordem e progresso.

IX

Efêmeras relações,
Tal como a psique, voltívolas,
A melhora é exígua
E o malogro à espreita.
O futuro recorda um fadário,
Vamos ao não-ser,
Funesto fato,
O tempo é a súpera necrópole.

Arcanas escrituras do porvir,
Feito livrete de crochê
Com enrugada capa,
Seguindo as fragmentadas instruções,
Se faz um grosso cachecol, dizem.
Manifestam-se dúvidas
E a cisma de haver algo inexato,
A resultância é uma investida frustrada.
As cousas têm pretexto,
Contudo, não têm razão,
E sórdidas intenções avariam
A tal trilha benigna que tantos
Alegam seguir.

Incompreendidas surtidas
Inumam a concórdia
Em flamejante dissipação,
Cova infame e posposta,
Sem lápide nem magnitude,
E sobre ela apenas o silvedo.
Desmedida omissão,
Sem um veraz porquê,
Somente derruimento infrene
Provindo do santificado fundamentalismo.

Os insurrectos
Pouco exprimem em ações imensas,
Sempre una prédica:
Perseguir o vivenciar sacral,
Seja qual for o custo,
Os lídimos princípios,
Ditados por Ele,
É o ímpar esclarecimento
Da fastidiosa senda
À obtenção e perpetuação
Da sagrada ordem.

Timon caiu aos prantos,
Lágrimas fartas,
Alento do caudaloso flume de suplícios,
Do qual um trescalo de lustre putrefato
Difunde-se no espaço,
Provocando a mais íntima
Das irritações, a do imo.
Outra vez airado,
Integralmente atormentado,
Feito as árvores com seus frondes
Bailando consoante aos rumos das rajadas
Que antevertem o temporal,
Intuiu que devia agir
À altura da mavórtica cólera.
Com armas em punho,
E a potestade de seus sectários
Levou o estampido dos tiros
Aos confins daquele lugar,
Trucidando a brandura e a benevolência.
Os altares inefáveis
De preito à localista sublimidade
Estão eivados pelo sangue de muitos,
Sobre eles, as tripas,
Não interessa de quem,
Meândrico escoar do sangue,
Bagas concebem encarnecidos borrões,
A carnificina já não constrange mais.

Ser ou não ser impoluto
Dentro em pouco uma dúvida
Deixou de ser,
O abjeto togado,
Evaporador das miseráveis
Poças de justiça
E empalador de Têmis,
Efetua iníquos inquéritos.
Embaciadores da vista,
Feito cerração
Na atra chona dantesca,
Atravancando a visualização
Do espectro de Aleteia
Que paira à frente
Mesmo parecendo semoto.
Abnega o que é relatado,
E diz enxergar o veredito,
Fica o dito pelo não dito,
Por obra de compulsórias detenções,
Em hediondas masmorras
Insontes estão trancafiados,
Desvalidos à mercê das ratazanas,
Com seus rostos por entre as grades
Exoram o triunfo do justo.

X

Ao fundo, detonações, troada
E o estrondoso aluir das edificações
Em meio à alarma total,
Dentre escombros e desaire,
Desfigurado cadáver,
Concreção da perpetração execrável
Duma chacina desvairada.

Ementes,
Tal e qual espavorido cão,
Escapulindo-se dos pontapés
De acerbos pedestres,
O reinante e o alto escalão,
Neste momento eram cândidos párvulos
Na lamúria a queixar-se
Das feras que os horripilam.
Na taciturnidade noturnal,
Escamparam dos dilúvios de projéteis
E da lucidez vulcânica do petardo
Num navio rapinado,
Nesse frenesi extasiante,
As facetas lívidas de horror,
Perante o estado midriático,
Apeteciam ardentemente as indúcias
Que jamais deram a seus súditos.
Apartaram-se do proscênio da refrega
Cortando águas volteiras,
Por vezes vulpinas feito nós,
Até ablegarem-se em refrescatas colinas
No complemento da terra solar,
Onde admiravam mares de névoas
Ao passo que urdiam meios
De se reaver o que fora roubado.

Ao coerir a ruinaria
Ressequiram o plangor aquoso,
Deliberaram-se a uma arremetida
Em oposição ao tanger das lôbregas correntes
Do estrangulador da futuridade.
Cabais surtidas,
Esfrolaram o opósito
Selando os ultrajes vesanos
À efeito da fulguração
Retumbante das bombas
E do estrupido dos balázios.
E agora, farta gente cadaverosa
Repoisa depois de lautos desfortúnios,
Sendo nada mais do que
Podridão nutrificante
E cota duma soma
Numa página dos anais da nação.

Noutra atalaia, mais uns pistoleiros,
Assestando suas pistolas
Aos esfacelos dum povo,
Os senhores Lancastre e Crospakys
Executaram o estrategema abrasador
Alvejando os amos que puseram
Uma grilheta na terra dos nevoeiros viripotentes.
Ferrenha amputação dos ligames,
Estraçalhados frente à chuma erradia
Esforçada em perenizar-se,
Por lá Leafar afincou-se augusto ornato
Entabulando-se na remonta dos laços,
Apressuradamente o opíparo regedor
Desenraizou tais ervas daninhas
De seus campos de viradela,
Elas não são mais dessa terra,
Que fanam longe dali.

Lancastre, gozou do cometimento
De um dos seus mais jucundos sonhos,
Abancou-se no trono
E regalava-se com a percepção
Da densa coroa no alto de sua cabeça,
Gargalhava só, enquanto libava-se na ociosidade
E nos extraordinários banquetes.
Logo ali, destroços e o coro da desditosa turba,
Os ralos recursos rarefaziam-se,
Cortinas de seda, rasgadas,
As campanhas, todas rotas,
Os recintos citadinos, fissurados ou em frangalhos,
Dessa forma estavam ambas as terras,
Arrasadas pela cupidez e insipiência,
No final, só a natura mantém-se
E é nos lhanos cantos dos pássaros
Que pescamos as plás da vida,
Quem as escreveu?

XI

Nunca houve baliza para as desgraceiras,
Os desdobramentos se desenrolaram
Em um arrebatamento atmosférico,
Vórtice volante,
Volátil, versátil,
No vagar vultoso
Do vendaval
Vindicamos a
Vigência do viver.
Viciante ventar vetorial,
Sua vertigem vermina
E tudo verruma
Num vitupério vagamundo
De virtuosistemacidade.

Celestes torrentes inenarráveis
Viravoltearam a terra de tropicalidades,
Dantes luzidia,
Agora tão nebulosa,
E nessa turvação translúcida fulminante
Os estilhos rodopiam como bailarinas
Apresentando-se em terminal amostra.
Redução postrema
Da terra em farrapos
À integral exterminação,
Fado ceifeiro
A abrir grotescas feridas.
Não se sabe quem,
Mas alguém observa
O estertor e o acerejado jorro,
Casualmente nada méleo
 Confrontado à fruta,
Mesmo que afigure à cura
De todos os males a alguns.

Na orla mixórdia,
Timon, prófugo,
Fixou a visiva
Na junção de céu e mar 
Entrando em inconsonância
Que arreigou-se traspassando
E penetrando as peças capitais.
Fatídico alvoriço ondeante,
A abraçar o lobo do mar,
O qual nunca o abandona,
E agora volve à oscilação turquesa
Eximindo-se da vida
E saldando uma fração do deve
Para com a raça humana,
Que os polvos o devorem
E não deixem nada.

XII

Ideias perseveram
Tal como fedentina da carniça
Impregnando o ar e as vestes,
A acompanha-lo aonde quer que vá.
Fenecimentos multíplices
Não são páreos ao bento múnus,
A caminhada daqueles que creem é incontível,
Por vezes erma,
Apesar disso insistem na rota,
E lançam seus venábulos perfurantes
Naqueles que os estorvam
No espargir das graças e dos dogmas.

Se houver os que têm fio,
Haverá aqueles que têm um propósito
E podem elevar-nos.
Os renegadores
São acutilados como
Peça de carne dum açougue,
Encovados sem pesares,
Diminuídos à sevandija dos enfermos.
No desraigar da esqualidez,
A terra parece inficionada e suja,
Repleta de imundícies
Que devem ser assoladas,
Eles meramente exterminam
E não falam mais nisso.
Na terra das golfadas congelantes,
Nada díspar,
Como se fosse patavinas,
Vergaram-na com repelo
Rostindo a face daquela gente
 Contra as pedras.
Tal visão letificava-os,
Sorriam,
Afinal, a refusa do credo
Sinalizava o mirrar do homem,
O que eles faziam era
Aligeirar isso,
Livrando-se dos
Carcomas do mundo.

Solveram os poderes
Feito cloretos n’água,
Só os escolhidos pelo Altíssimo
Logram da suma
Arte da governança
E tem o potencial para reter-se
No mando e na prática
De propalação
Das sidéreas diretrizes.

Sempiterno retalhar,
Espezinham os irmãos apóstatas,
Como polos congêneres dos ímãs
Repelem uns aos outros,
Arrojando-os no precipício das mágoas,
Onde lá embaixo estanciam as ossadas,
No abismo do esquecimento.
Irmãos são espelhos,
Refletem uns aos outros,
Mesmo assim ouço
Um estilhaçar vitroso,
Os espelhos destapam muito,
Talvez seja por isso que tantos
 Estejam em pedaços,
Nessas manobras de imposição,
Quantas vezes matarão por amor?

XIII

Calcorreada embalde,
Os elevados tempos são abantesmas,
De tudo o que existe
Somente ficam as ruínas
E o eterno pasmo arfante
Ao entrever os avejões do pretérito.
Pelas crateras e desgraçados planos,
Perambula o herdeiro
Do trono da terra solama,
A bruma espessa dum dia de arrepios
O abarca agudamente
Como o abscindir dos gládios,
No andejar do litoral de falésias
A ululada ventania o chama
Ao vaporoso infinito.

Melopeias aéreas
Aparentavam aureolá-lo
Nessa condução às lhufas,
Escampou-se das instâncias telúricas
Num baque exteriorizador.
Multívago acoimado,
Flanando por não se sabe onde,
Um fruto apodrentado,
Que deu o cabeiro esfanico
 Nos despojos de Élpis,
Sua terra agora é nau vagueante
Desprovida do futuro.

Em um rochedo próximo,
Um tronco entalhado,
Fincado entre as rochas,
Resiste.
Superno e profético
Rogar do acontecer,
Silencioso vociferar do fim,
Como cada extremo de um colar,
Juntos num circuito sem referências,
A rutilar freneticamente
Num nobre arranjo óptico,
Até que um malho
Dilapida o que se lapidou,
Cacos a bruxulear,
Venusto estertor estético da luz.

Morre aqui o vinho do cálice,
Que em verdade sempre esteve vazio,
Não bebo nada,
Ainda assim levo o cálice à boca
E sinto o prazenteiro palato do vinho,
Vivo uma quimera
Com um recipiente desguarnecido.
E o texto sega-se aqui,
Em toda sua íntegra incompletude,
Recheias feito tua comida,
Alimente-se das sentenças encorpadas,
Reproduza, ou não,
A receita apresentada,
Degluta tudo o que trago-vos,
Coma,
Pois as turvas imagens dessa nação
Não saciam,
O que será dela?

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